domingo, 18 de setembro de 2011

Práticas integrativas e complementares à saúde bucal


Por: Célia Gennari

FONTE:  Odontomagazine 

As práticas alternativas na odontologia são recém-reconhecidas e regulamentadas para o uso dos profissionais, mas despertam o interesse de muitos profissionais e contam com a aprovação dos pacientes.

 


A Resolução CFO-82/2008 “reconhece e regulamenta uso pelo cirurgião-dentista de práticas integrativas e complementares à saúde bucal”. A Decisão CFO-45/2008 baixa normas complementares para habilitação para as seguintes práticas: acupuntura, homeopatia, fitoterapia, terapia floral, hipnose e laserterapia. Não menos importante, mas que ficou de fora dessa contemplação foi a odontologia integral antroposófica, muito bem lembrada pelo Dr. Helio Sampaio Filho, reconhecido profissional que
trabalha e leciona cursos dessas práticas.


Para entender como e quando essas terapias começaram a ser utilizadas pela equipe de odontologia, Dr. Helio lembrou que na década de 1970 o Dr. Álvaro Badra, eminente cirurgião-dentista, fez um alerta para uma nova abordagem ao paciente odontológico voltada para uma visão integral, humanista, para valorizar o que deve ser o foco da atenção do profissional, muito além da frieza da técnica e do mecanicismo vigente – o ser humano. “Este visionário publicou artigos, ministrou cursos e editou apostilas e livros sobre hipnose e psicossomática em odontologia, acupuntura e homeopatia, em uma época em que a odontologia tinha sua atenção voltada exclusivamente para técnicas e medicamentos convencionais”, comentou Dr. Hélio Sampaio Filho.


A partir de 2002, as discussões tomam novo rumo, apesar de muitos dentistas utilizarem ou recomendarem o uso de práticas integrativas e complementares há décadas. Nessa época foi realizada a Assembleia Nacional de Especialidades Odontológicas – ANEO, na qual acupuntura e homeopatia pleiteavam o reconhecimento, o que lhes foi negado. Por essas e outras, ficou clara a necessidade de união e organização. E, assim, em 2006, Conselhos Regionais de Odontologia – inicialmente MG, SP, RJ e RS, nomearam Comissões de Terapêuticas Complementares para a Odontologia.


Em 2007, o Conselho Federal de Odontologia – CFO convocou uma Assembleia em Bonito (MS) para uma ampla discussão sobre quais seriam as terapêuticas a serem avaliadas e discutidas e normas para a realização de um Fórum, que aconteceu em junho de 2008, denominado já de Fórum para a Regulamentação das Práticas Integrativas e Complementares. Segundo Dr. Hélio, a pesquisa de opinião realizada por meio do site do CFO mostra uma aprovação expressiva para que a normatização e regulamentação fossem discutidas em caráter social.


No entanto, o dentista recorda que a odontologia é a única área da saúde que ainda não reconhece a acupuntura e a homeopatia como especialidades. O Conselho Regional de Medicina – CRM, o Conselho Regional de Medicina Veterinária – CRMV, além do Conselho Regional de Farmácia – CRF já reconhecem. Sem contar os não prescritores, como exemplo, a fisioterapia.


O mais curioso é que, desde maio de 2006, foi aprovada a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares – PNPIC no Sistema Único de Saúde pela Portaria nº 971, que disponibiliza vagas para atendimento nas áreas de acupuntura, homeopatia e fitoterapia para o cirurgião-dentista. “Porém”, ressaltou Dr. Hélio, “como não foram ainda reconhecidas como especialidades, perdesse mercado de trabalho de maneira incompreensível”.


Benefícios

Com uma parcela muito expressiva dos profissionais que utilizam práticas integrativas e complementares à saúde bucal, a prática clínica diária mostra que os benefícios são reais. “Observo, tanto na minha prática clínica como em conversas com outros profissionais, que a aceitação por parte do paciente ao tratamento complementar, assim como a resposta ao mesmo são, na maioria das vezes, muito positivas”, afirmou Dr. Helio.


Existe uma reprovação velada, não expressa e não mensurável entre alguns profissionais que não aceitam o reconhecimento dessas práticas, porém aos poucos a tendência é de mudança positiva. “Hoje conseguimos adentrar em muitas áreas do saber em odontologia. Vemos grupos atuando clinicamente em diversos setores dentro da Universidade de São Paulo e em outras faculdades, mas em número bem modesto. Em termos de Brasil, isso é diluído e acaba ficando meio sem expressão”.


Cursos

A Decisão CFO-45/2008 estabelece normas tanto para a habilitação quanto para o funcionamento dos cursos, porém a procura tem sido muito pequena para os cursos, provavelmente porque os profissionais aguardam o prometido reconhecimento da especialidade que despertaria um maior interesse. De qualquer forma, o Dr. Hélio informou que na maioria dos congressos importantes que ocorrem no Brasil ministram palestras e conferências sobre o tema.


Algumas das práticas integrativas e complementares



Homeopatia

A homeopatia é uma terapêutica que se desenvolveu por meio da história, desde Hipócrates até Hahnemann, médico alemão que a propôs, no final do século XVIII.

É um sistema científico filosófico bem determinado, com metodologia de pesquisa própria, apoiada na experimentação clínica de medicamentos homeopáticos. Tal processo de experimentação é realizado em indivíduos sadios, para depois, por meio do Princípio da Semelhança, utilizá-los em indivíduos adoecidos. É uma terapêutica denominada de vitalista, em que o denominado princípio vital é estimulado para obtermos a homeostase, ou seja, o equilíbrio geral do indivíduo. Os medicamentos utilizados veem do reino vegetal, mineral ou animal e são submetidos a uma farmacotécnica homeopática, em que se utilizam ultradiluições e agitações (sucussões) que se corretamente prescritos e administrados trarão inúmeros benefícios ao paciente. Sua aplicação é ampla dentro da odontologia.

A homeopatia em odontologia não substitui os procedimentos técnico-operacionais convencionais, mas como as possibilidades da terapêutica homeopática são bastante diversificadas. Ela poderá ser aplicada na clínica geral e em todas as suas especialidades. Por vezes, acompanhando as técnicas específicas e em outras oportunidades, como a terapêutica de eleição.


Acupuntura

É uma técnica que tem como origem a medicina tradicional chinesa e que se baseia na inserção de agulhas ou qualquer outro meio de estímulo sensorial, aplicados em áreas determinadas e escolhidas para prevenir ou tratar diversas afecções do sistema estomatognático, além de poder proporcionar analgesia, efeitos ansiolíticos e miorelaxantes, melhora na função imunológica, controle de estresse e tantas outras aplicações nas diversas áreas de atuação do dentista.


Hipnose

Pelo uso da palavra, o cirurgião-dentista consegue promover um estado alterado de consciência do indivíduo de modo rápido e seguro, para que o mesmo possa ter um comportamento adequado e positivo controlando fobias, medo, traumas e tantos outros comportamentos que limitam o tratamento convencional.

A Hipnose é citada e recomendada na Lei nº 5.081, de 24 de agosto de 1966 [publicada no D.O.U. de 26.8.66, retificada em 1º.9.66 e 16.6.67] que regulamenta a profissão de cirurgião-dentista.


Terapêutica Floral

Idealizada em suas bases por um médico inglês, Dr. Edward Bach, que catalogou 38 medicamentos principais extraídos de flores e suas aplicações com o intuito de promover o reequilíbrio geral do doente. Os florais atuam sobre a desarmonia profunda que afeta o paciente, promovendo o seu reequilíbrio, preparando o caminho para a recuperação física.  Atuam também como preventivos, impedindo o aparecimento de novas doenças.


Fitoterapia

É a terapêutica mais utilizada pelos diversos povos de todo o mundo, desde a mais antiga idade. As matérias-primas dos fitoterápicos são plantas (folhas, caule, _ores, raízes ou frutos) com efeitos farmacológicos medicinais, alimentícios, coadjuvantes técnicos ou cosméticos. Em odontologia existe uma condição de sua aplicação complementarmente a outras práticas e com possibilidade de pesquisa, aplicação e desenvolvimento nas indústrias farmacêuticas especializadas. De certa maneira pode haver a comparação da fitoterapia com o tratamento com fármacos, porém com o estudo das plantas medicinais, amplia-se o leque de aplicações que não _cariam restritas aos produtos padronizados pela indústria farmacêutica e com maior diversidade de emprego.


Carência de dados estatísticos

Há carência de dados estatísticos bem como de trabalhos científicos nas áreas relacionadas. O número de profissionais interessados é reduzido, não deve chegar a 1.500 em todo o Brasil, o que diminui o número de trabalhos na área. Além, disso, segundo o Dr. Hélio Sampaio Filho, existe um crivo pelas editoras quando o assunto abordado é a prática integrativa de modo geral.


A Homeopatia possui a Associação Brasileira de Cirurgiões-Dentistas Homeopatas – ABCDH (abcdhnac.blogspot.com) que tenta agregar os profissionais atuantes. No entanto, essa não é a realidade das outras áreas, sendo a desunião, na opinião do Dr. Hélio, o ponto crítico para que dados estatísticos sejam produzidos e destacados.


“Hoje conseguimos adentrar em muitas áreas do saber em odontologia. Vemos grupos atuando clinicamente em diversos setores dentro da Universidade de São Paulo e em outras faculdades, mas em número bem modesto” - Dr. Helio Sampaio Filho

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